Minha mãe iniciou sua pesquisa genealógica afro-brasileira na década de 1990, numa época em que não existia pesquisa genealógica online. As buscas eram feitas com paciência e persistência, através de microfilmes no Centro de História da Família, do FamilySearch. Lembro que, em 1997, ela entrou em contato com um cartório de Minas Gerais solicitando um documento. Informaram que ela precisaria pagar pela emissão. E, pasmem, ela enviou o valor em dinheiro, dentro de um envelope, pelo correio. Pouco tempo depois, chegou em casa a certidão de nascimento da avó dela, nascida em 1896, mas registrada apenas em 1917.
Com isso, formamos a árvore do lado materno da família. Já do lado paterno, tudo era um grande vazio. Decidi então assumir essa busca. Foram anos pesquisando já de forma intuitiva, sem apoio ou indicação de especialistas em genealogia afro-brasileira ,mas já nos anos 2000 e com auxílio dos registros online no Family Search. Mesmo assim, consegui traçar a linhagem até meus pentavós, um casal que viveu em Paraíba do Sul, região que fazia parte do Vale do Café no período colonial. Descobri que a mulher era escravizada pelo Barão da Paraíba. Já Felicidade, mãe do meu tetravô, aparece no registro de batismo dele como mulher liberta.
Hoje, sigo estudando para desenvolver mais habilidades em pesquisa, agora com um olhar mais atento e direcionado à genealogia afro-brasileira. E quero deixar um recado importante: fazer esse tipo de pesquisa é muito mais do que buscar nomes e datas. É um ato de justiça histórica. É reconstruir memórias que foram apagadas, é dar voz e dignidade aos nossos ancestrais. A genealogia afro-brasileira é uma ferramenta poderosa de resistência, de identidade e de reconexão com uma história que por muito tempo nos foi negada. Que minha trajetória possa inspirar outras pessoas a também recontarem as suas — porque todo passado precisa de alguém que o resgate.